sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Desembarque Internacional






Especialistas debatem acerca do desembarque de redes de outro países no Brasil e sobre como elas atuarão por aqui, suas dificuldades e o que isso pode representar em termos de mudança de mercado e até de legislação.


Os recentes movimentos de fusões e aquisições dentro do varejo farmacêutico brasileiro serviram para alimentar ainda mais as discussões sobre o futuro deste mercado no País. Foram grandes negociações que começaram a moldar um novo formato deste varejo. Entretanto, a maior parte destes movimentos aconteceu entre companhias nacionais. A tão falada “invasão” de varejistas estrangeiros, principalmente os norte-americanos, era apontada como “uma questão de tempo”. De fato abrimos os braços para um player dos Estados Unidos atuar em território nacional, mas, por enquanto, foi só. A chegada CVS ao Brasil, com a compra de 80% da Drogaria Onofre no início do ano passado, poderia ter indicado o início de uma nova fase para o canal farma brasileiro, entretanto essa movimentação parou por ali. Inclusive, até hoje, é possível notar que a rede norte-americana ainda não conseguiu implementar seu modelo de negócio aqui, por uma série de fatores que discutiremos adiante.

Ainda assim, uma série de rumores continuaram surgindo neste mercado a respeito da entrada de redes estrangeiras. Alguns dos boatos davam conta de uma possível oferta da CVS pela Drogarias Pacheco São Paulo, outros diziam que a rede que poderia pintar por aqui seria a Walgreens, por meio de uma eventual aquisição da Brasil Pharma. A Alliance Boots, cuja a Wallgreens detém 45% de suas ações, é mais uma que estaria sondado seu ingresso no País. A rede britânica anunciou em maio deste ano a compra da Farmacias Benavides, no México, e da rede Ahumada, no Chile; marcando assim seu ingresso na América Latina. 
Além destas situações, o varejo farma brasileiro também foi dinamicamente influenciado por mais dois movimentos dentro do território nacional. Um deles veio por parte da distribuidora Profarma, que adquiriu as bandeiras fluminenses Drogasmil e Farmalife, do grupo mexicano Casa Saba, e um mês depois anunciou a compra de 50% da Drogaria Tamoio, que atua no interior do mesmo estado. Ainda em 2013, o Grupo Ultra, que congrega as empresas Oxiteno, Postos Ipiranga, Ultracargo e Ultragaz, anunciou a compra da rede paraense Extrafarma, braço varejista da distribuidora Imifarma, que atua nos estados do Pará, Amapá, Piauí, Maranhão e Ceará.


Mudança de mentalidade
Todos estes fatos citados criaram um cenário em que a busca por consolidação tornou-se um fator fundamental para os grandes players. Outro ponto que firmou-se como primordial é a eficiência na operação, cada vez mais necessária para aqueles que desejam seguir crescendo ou sobrevivendo. A chegada de redes internacionais ao Brasil foi tema de discussão do fórum “Negócios, Tendências e Oportunidades – Farma E HPC”, durante o Pharmanager 2014, ocorrido em São Paulo. Na visão de Claudio Roberto Ely, consultor de Governança Corporativa e ex-CEO do Grupo RaiaDrogasil, a chegada de grandes players exige uma efetividade e uma eficiência muito maior. “A entrada de novos participantes no mercado obriga os atuais a melhorarem, pois a competição melhora a gente todos os dias”, resumiu.

Todavia, o especialista ilustra as dificuldades que estes players terão para se firmar em território tupiniquim. “Uma farmácia que se toca no Brasil não é a mesma que se toca na Argentina, por exemplo. Há tipos diferentes de abordagem. Houve uma época, na RaiaDrogasil, em que pensamos em expandir para a América Latina, só que quando se estuda cada país há regulações tão diferentes que parece ser uma outra indústria”, revelou Claudio Ely, situando que, para empresas de capital aberto, a expansão é sempre necessária, já que o mercado cobra rentabilidade de expansão, fazendo com que as companhias precisem buscar outros mercados.
Para Eduardo Rocha, diretor da IMS Health, o varejo é local e existem diferenças fundamentais entre os mercados. “O modelo americano não virá para cá porque não cabe aqui. Lá as lojas têm em média 500 m² e as nossas não têm 100 m². Há modelos diferentes e o que vai mudar é realmente o processo. As empresas locais terão de se adaptar e melhorar seus processos, além de serem mais eficientes. Isso não significa que o varejo internacional irá acabar com o nacional. Creio que teremos grandes grupos nacionais e redes locais e regionais, mas haverá consolidação”, opinou. Para ilustrar este contexto, Claudio Ely citou a indústria financeira nacional. “Temos grandes bancos internacionais no Brasil, mas quais são os grandes bancos do País? Fora os públicos, são os nacionais! Quando aconteceu a grande crise americana, todos correram para colocar seu dinheiro no Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Todos viam os bancos nacionais como um porto seguro”, relembrou.

O exemplo indicado por ele serve para direcionar sua opinião de que a vinda de players internacionais para cá não vai acabar com os grandes grupos nacionais. “Vai melhorar o mercado. Lá eles têm outro tipo de abordagem, as farmácias são quase como supermercados. Vimos que as lojas de conveniência que vieram para cá, como a 7-eleven, não funcionaram. Isso aconteceu por um simples motivo: a inflação. Ela é algo muito nefasto e terrivelmente desleal para com o pobre. Quem tem dinheiro ganha dinheiro com a inflação, essa é a verdade. Como tempo é dinheiro, sabendo trabalhar, ganha-se sem fazer nada”, observou o consultor.



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